sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Telefone e ameaça na redação

Em qualquer redação de jornal a realidade é a mesma: o telefone não pára de tocar, as janelas do MSN estão sempre piscando e a caixa de e-mail sempre tem novidades. Por maior que seja a redação (o que não é o meu caso) todos precisam apurar as notícias, escrever e é claro, atender o telefone.

Esses dias pela manhã foi uma ligação atrás da outra, principalmente com reclamações sobre a cidade e até por gente indignada com o que é escrito por colunistas do jornal, querendo uma desculpa ou uma explicação, mesmo que tenha o telefone e e-mail do cara que escreveu ali eles vem cobrar de qualquer um que esteja dentro do escritório, pode até ser a moça do café (se bem que onde eu trabalho, a sucursal é minúscula e todo mundo faz café).

Com essa correria, tem leitor que fica bravo quando os repórteres não dão uma solução imediata, desligam o telefone na cara e gentilezas do gênero. Tem gente que já tá tão cansada de reclamar pra Deus e o mundo que coloca no jornal sua última esperança e exige que a matéria seja publicada o mais rápido possível, como se não houvesse uma organização da página. Eles devem pensar que é só ir enchendo de texto até acabar o expediente e todo ir embora pra suas casas aliviado porque o dia terminou. Até já teve leitor que se ofereceu pra vir até aqui escrever a notícia.

Para quem não está nessa rotina, é difícil entender que o que sai no jornal não é decidido por uma única pessoa. Há uma equipe grande, onde todos precisam estar em sintonia. No fim, os repórteres acabam se acostumando e ouvindo todo o esporro de leitor até entender sobre o que ele está falando e encaminhar para o setor ou editor responsável. Quando o telefone não toca a gente até desconfia do silêncio.

Há mais de uma semana fomos ameaçados por um parente de vítima de assassinato. Por sorte cheguei uns minutinhos atrasada e não vi o barraco, mas as meninas que trampam nos classificados nem tiveram tempo de ler a matéria e deram de cara com o homem querendo bater em todo mundo. Como a gente vê de tudo nesse mundo e o cara fez aquela ameaça super comum: “isso não vai ficar assim”, precisamos de um segurança pra poder trabalhar.

Ontem um adolescente foi assassinado pela polícia e eu tive a coragem de ligar para o pai do guri. O cara só faltava me dar um soco pelo telefone de tão revoltado, como se a culpa fosse minha ou do jornal do filho ter sido morto. Ele disse pra eu cuidar com o que fosse escrito senão eu ia ver só – essa também é uma ameaça comum. O cara nem me deixou explicar que eu queria dar espaço pra ele se defender, já que o guri tava assaltando uma farmácia, mas ele desligou antes que eu pudesse defender a classe e dizer que a gente não inventou nada, a notícia veio da polícia.

No fim, ninguém apareceu por aqui revoltado e sobrevivemos a mais uma semana. Que venha segunda-feira e todos os perrengues do jornal diário...