sexta-feira, 13 de julho de 2012
O resultado de uma madrugada
Ele disse que tinha algo para me mostrar. Eu quis saber o que era, e ele imediatamente segurou a minha mão. Como se escondesse um segredo sorriu, e me levou para um quarto. Foi então quando disse, com o seu jeito único de falar, que se sentia bem perto de mim e queria me mostrar o que tinha guardado no coração durante tanto tempo.
Então os seus sonhos foram projetados na parede. Com alguns deles eu me identificava, com outros não concordava, e essa era a melhor parte: ele não questionava a minha opinião, apenas aceitava. E dizia que sobre isso pensaríamos depois.
Mas então todas as luzes se apagaram, e eu falei baixinho que tinha medo do escuro. Ele me abraçou e disse que não tinha razão para sentir isso, já que no escuro nada se vê. E eu disse que era justamente por isso. Eu não tinha medo do que não via, mas do que sentia. Da solidão. Então que ele disse que ficaria comigo. E a luz voltou.
Mesmo com a claridade ele disse que ficaria, sem que eu precisasse inventar outra desculpa. Naquele momento não existiam mais relógios. Não existiam as horas. Mas nós sabíamos que era a hora de voltar quando o dia nasceu. Por um momento eu desejei que novamente fosse noite só para ficar mais tempo. Por um momento eu tive até medo de perdê-lo.
Mas no fim do dia ele me mandou uma mensagem pelo celular dizendo que se eu tivesse medo de novo era para ligar. É claro que eu liguei, mas não por medo. Por saudade. E passei a gostar da noite, do escuro, e de tantas outras desculpas esfarrapadas.
Todas as vezes em que a luz clareava o dia ele ficava comigo da mesma forma. Então eu percebi que não importava onde, como, ou quando, mas sim que ele estivesse ali. Que a sua presença me fazia esquecer que o resto do mundo e todas as angústias e aflições existiam.
Por alguns instantes eu fui feliz por sentir o seu corpo me protegendo dos meus medos interiores. Descobri que foi ele quem me fez não ter mais medo da noite, do escuro, das horas… E principalmente da solidão.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Tudo o que sobrevive aos contratempos
- Apaga a luz e fecha a porta?
- Ainda não vou embora, quero ver você dormir.
- Não vou dormir enquanto você estiver aqui.
- Então eu canto pra você.
- Ainda não vou embora, quero ver você dormir.
- Não vou dormir enquanto você estiver aqui.
- Então eu canto pra você.
- Vida, apaguei a luz e fechei a porta, disse ele bocejando.
O dia demorou a passar. Os meses demoraram mais. Quando um ano estava pra chegar, alguma coisa aconteceu. O telefone não tocava com tanta freqüência, os encontros não eram tão esperados e a vontade de estar juntos estava cada vez menor. As lágrimas viraram rotina, os beijos não tinham sabor e o coração doía demais. Ela sempre se perguntava por que machucava o que antes fazia-lhe tão bem. E por que só podia fazer parar de chorar justamente o responsável pelos seus prantos.
Era sábado, sete e meia da noite, quando ela ligou e ele havia saído com os amigos. Não se abateu, ela iria justamente inventar mais uma desculpa para não precisar vê-lo. Esses desencontros tornaram-se comuns e entre idas e vindas resolveram não se ver mais. Com o tempo a saudade cresceu até se tornar insuportável. Tentar esquecer era fácil, ocupavam a cabeça com trabalho, estudo e até com outras pessoas. Tudo em vão. Ambos sabiam da vontade de estar juntos, mas a insegurança atrapalhava qualquer iniciativa.
Até que um dia encontraram-se em um bar (o mesmo em que se conheceram) e os olhares cruzaram-se. Um filme passou pela cabeça e as lembranças foram o suficiente para que a coragem aproximasse os dois corpos. Parecia que haviam acabado de se conhecer. Tinha músicas que faziam lembrá-los de muitos momentos. Tanto que, quando a trilha sonora de sua história tocou, eles sorriram. Isso foi o suficiente para despertar tudo o que estava escondido dentro do coração por tanto tempo. E foram felizes até o sol nascer.
- Apaga a luz e fecha a porta?
- Claro, mas vou ficar vendo você dormir.
Madrugada adentro o sono dela era profundo. Só despertou com o barulho de passos apressados vindos na direção do seu quarto:
- Vida, desculpe! Esqueci de apagar a luz.
Deu-lhe um beijo de boa noite e saiu rápido para que não atrapalhasse seus sonhos, pois sabia que eram com ele.
quarta-feira, 11 de julho de 2012
A quem pertence as lágrimas?
Um homem sábio e já experiente em sintomas de tristeza e desilusão a disse:
- Não, você não merece chorar.
- Por quê? Ela perguntou, enxugando os olhos inchados.
Ele sem muito pensar disse que ninguém era digno de colocar uma nuvem tão pesada sobre sua cabeça e fazê-la transbordar. Ela não entendia porque isso podia ser chamado de amor. A angústia e o sofrimento eram visíveis e sua aura tinha a cor do desespero. O único conselho que a davam era de que isso não a fazia bem.
O amor não estava fazendo bem, ela concordava. E este era o problema: o amor.
Ainda que encontrasse as respostas, não as aceitava. Se a solução fosse mandá-lo embora de sua vida não queria e não poderia, certamente.
Outro dia ela encontrou o mesmo homem e por curiosidade perguntou:
- Quem é você?
- Alguém que jamais lhe faria chorar, ele respondeu.
Então ela arrumou o vestido de algodão, sentou à beira da calçada e chorou.
- Não, você não merece chorar.
- Por quê? Ela perguntou, enxugando os olhos inchados.
Ele sem muito pensar disse que ninguém era digno de colocar uma nuvem tão pesada sobre sua cabeça e fazê-la transbordar. Ela não entendia porque isso podia ser chamado de amor. A angústia e o sofrimento eram visíveis e sua aura tinha a cor do desespero. O único conselho que a davam era de que isso não a fazia bem.
O amor não estava fazendo bem, ela concordava. E este era o problema: o amor.
Ainda que encontrasse as respostas, não as aceitava. Se a solução fosse mandá-lo embora de sua vida não queria e não poderia, certamente.
Outro dia ela encontrou o mesmo homem e por curiosidade perguntou:
- Quem é você?
- Alguém que jamais lhe faria chorar, ele respondeu.
Então ela arrumou o vestido de algodão, sentou à beira da calçada e chorou.
terça-feira, 10 de julho de 2012
Dia ótimo para viagens
Queria que o horóscopo servisse de desculpa válida para não cumprir algumas obrigações diárias. Pelo menos quatro vezes por semana todos os aquarianos, como eu, estão propícios a fazer viagens produtivas, isso segundo as previsões do jornal que leio diariamente.
Não que eu não tenha mais o que fazer, mas existe algo que me prende a este costume. Passar pelas páginas sem dar uma olhadinha é praticamente impossível, a não ser que seja um jornal antigo, o que é proibido. O problema é que costumo ficar com a pior previsão de todos os horóscopos que leio (três na média), principalmente aqueles que dizem “dia de maus fluídos nos assuntos amorosos” ou “não tente nada de inovador no trabalho: você irá se arrepender”. É justamente neste dia que algo de muito ruim vai acontecer.
Depois que assisti “O Segredo” evito ler o horóscopo para não me deparar com previsões trágicas, acreditar fielmente nessas idéias e deixar que o universo inteiro leia meus pensamentos. Nunca se sabe o que existe entre o céu e a Terra, não é mesmo?
Talvez o horóscopo seja trauma de início de “carreira”, quando a filhote de foca aqui, com zero de experiência, foi destinada à difícil tarefa de consultar os astros e ver o que eles trariam para você sagitário (capricórnio, escorpião, touro…) amanhã. Na verdade filtrava previsões de algum site. E confesso que nos dias em que elas não eram atualizadas eu copiava de algum dia anterior. Ninguém nunca reclamou.
Só tive esse problema com o resumo de novelas. Não assistia, mas sabia do nome de todos os personagens. Na hora de enxugar o texto para caber na página deixava os “babados mais fortes”, o beijo da semana ou um assassinato. Mas eis que em uma bela manhã um leitor ligou dizendo que sua mãe quase centenária lia o resumo todos os dias e não era a primeira vez que reclamava de capítulos repetidos. Eu podia jurar que ninguém lia aquilo.
Vai ver é por isso que me sinto presa ao horóscopo: já o trai e não tive a menor ética com essa informação tão importante na vida do leitor. Uma amiga dizia: “escreve coisas legais que eu leio”. De certo as pessoas que fazem os horóscopos atualmente não tem esse tipo de amiga.
E se eu levasse isso mesmo a sério? Se eu largasse tudo para viajar naquele “dia ótimo para viagens”. Se der certo posso até escrever um livro: “O segredo está em jogar tudo para o alto e passar férias prolongadas no Tahiti”. O único problema será a versão 2: “Joguei tudo para o alto, e agora?”.
Coisa complicada essa de horóscopo, acho que vou começar a fazer palavras-cruzadas.
Não que eu não tenha mais o que fazer, mas existe algo que me prende a este costume. Passar pelas páginas sem dar uma olhadinha é praticamente impossível, a não ser que seja um jornal antigo, o que é proibido. O problema é que costumo ficar com a pior previsão de todos os horóscopos que leio (três na média), principalmente aqueles que dizem “dia de maus fluídos nos assuntos amorosos” ou “não tente nada de inovador no trabalho: você irá se arrepender”. É justamente neste dia que algo de muito ruim vai acontecer.
Depois que assisti “O Segredo” evito ler o horóscopo para não me deparar com previsões trágicas, acreditar fielmente nessas idéias e deixar que o universo inteiro leia meus pensamentos. Nunca se sabe o que existe entre o céu e a Terra, não é mesmo?
Talvez o horóscopo seja trauma de início de “carreira”, quando a filhote de foca aqui, com zero de experiência, foi destinada à difícil tarefa de consultar os astros e ver o que eles trariam para você sagitário (capricórnio, escorpião, touro…) amanhã. Na verdade filtrava previsões de algum site. E confesso que nos dias em que elas não eram atualizadas eu copiava de algum dia anterior. Ninguém nunca reclamou.
Só tive esse problema com o resumo de novelas. Não assistia, mas sabia do nome de todos os personagens. Na hora de enxugar o texto para caber na página deixava os “babados mais fortes”, o beijo da semana ou um assassinato. Mas eis que em uma bela manhã um leitor ligou dizendo que sua mãe quase centenária lia o resumo todos os dias e não era a primeira vez que reclamava de capítulos repetidos. Eu podia jurar que ninguém lia aquilo.
Vai ver é por isso que me sinto presa ao horóscopo: já o trai e não tive a menor ética com essa informação tão importante na vida do leitor. Uma amiga dizia: “escreve coisas legais que eu leio”. De certo as pessoas que fazem os horóscopos atualmente não tem esse tipo de amiga.
E se eu levasse isso mesmo a sério? Se eu largasse tudo para viajar naquele “dia ótimo para viagens”. Se der certo posso até escrever um livro: “O segredo está em jogar tudo para o alto e passar férias prolongadas no Tahiti”. O único problema será a versão 2: “Joguei tudo para o alto, e agora?”.
Coisa complicada essa de horóscopo, acho que vou começar a fazer palavras-cruzadas.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
Promoção de Dia dos Namorados
“Loiros ou morenos, altos ou baixos, aqui você encontra todo tipo de namorado para não passar o dia 12 de junho sozinha”, dizia o vendedor Claudinei com um auto-falante em frente à loja Armazém do Amor, no centro da cidade. “E tem mais”, insistia: “na compra do nosso modelo promocional ganhe um jantar à luz de velas!”.
Claudinei é um ótimo profissional, dessas “pratas da casa” que faz de tudo um pouco. Não é a toa que já foi contemplado com o título de “vendedor do mês” por vinte e duas vezes em sete anos de trabalho. Alguns dizem que por ser gay ele tem essas vantagens: as mulheres preferem comprar com ele.
- Eu sempre quis um jantar à luz de velas, suspirou Anita enquanto passava em frente à loja, num sábado à tarde, alguns dias antes da comemoração dos namorados.
Anita é romântica. Seus cabelos ruivos e lisos na altura dos ombros escondem uma garota sonhadora, dessas que desejam encontrar um grande amor. Seu último namorado, Pedro, há cerca de oito meses viajou e nunca mais deu notícias. Mas ela sabe que isso acontece nos melhores contos de fada e não se lamenta.
- Mas não com esse homem da promoção! Nem de graça eu o levaria pra casa! Indignou-se Beatrice, sua melhor amiga.
Bea, como é conhecida, gosta de festas e badalação. Levou Anita para ajudá-la a escolher um vestido novo e bem decotado. Quer usar seus novos seios de silicone (250 gramas em cada um) como arma infalível para atrair os homens.
- Ah, como você pode ser tão insensível, Beatrice! Eu não queria gastar muito no Dia dos Namorados. Acho que vou dar uma olhada nesse.
- Até hoje não sei como somos amigas!
As duas entraram na loja e pediram a Claudinei para dar uma olhada no produto da promoção. Por sorte, existiam vários modelos.
- Este aqui é o mais barato e vem com duas entradas para o cinema, explicou o vendedor.
- Não tem um menos careca, com mais dentes e sem essa garrafa de cachaça na mão? Perguntou Anita.
Então o vendedor as levou até os fundos da loja e continuou mostrando os namorados em promoção.
- Anita, aquele não é o marido da Clarice?
- É sim, o Nestor. O que ele faz aqui?
- Como eu ia dizendo, interrompeu o vendedor, nossa loja dispõe dos mais diversos tipos de namorados para agradar nossas clientes. Esta é a sessão dos namorados casados. Esta outra é a dos namorados casados e com filhos, bem mais em conta. A loja Armazém do Amor sempre pensa na satisfação de seus clientes. Adquirindo o nosso produto você estará levando para casa acima de tudo, qualidade. A única coisa em que não nos responsabilizamos, é com as interferências de esposas e coisas do gênero. Com qualquer outro contratempo, garantimos a devolução do seu dinheiro.
Elas já tinham experiência com esse tipo de namorado e sabiam que era dinheiro jogado fora. Resolveram não arriscar novamente e continuaram analisando os modelos propostos por Claudinei. Até que uma nova remessa acabava de chegar, importada da Suíça.
- Na realidade, moço, eu queria um desses, disse Bea, segurando pelo braço um loiro com mais de 1,90 de altura.
- Pois não, vou providenciar um para você provar.
Enquanto Beatrice conversava com um dos namorados importados em um puff em formato de coração, Anita insistia no par ideal.
- Moço, eu sou assim mesmo, bem indecisa. Eu gosto de ter certeza que ficarei feliz com o produto que estou comprando.
- Mas que tipo de namorado mais ou menos você procura?
- Eu queria um homem sensível.
- Gosta desse?
“Loiros ou morenos, altos ou baixos, aqui você encontra todo tipo de namorado para não passar o dia 12 de junho sozinha”, dizia o vendedor Claudinei com um auto-falante em frente à loja Armazém do Amor, no centro da cidade. “E tem mais”, insistia: “na compra do nosso modelo promocional ganhe um jantar à luz de velas!”.
Claudinei é um ótimo profissional, dessas “pratas da casa” que faz de tudo um pouco. Não é a toa que já foi contemplado com o título de “vendedor do mês” por vinte e duas vezes em sete anos de trabalho. Alguns dizem que por ser gay ele tem essas vantagens: as mulheres preferem comprar com ele.
- Eu sempre quis um jantar à luz de velas, suspirou Anita enquanto passava em frente à loja, num sábado à tarde, alguns dias antes da comemoração dos namorados.
Anita é romântica. Seus cabelos ruivos e lisos na altura dos ombros escondem uma garota sonhadora, dessas que desejam encontrar um grande amor. Seu último namorado, Pedro, há cerca de oito meses viajou e nunca mais deu notícias. Mas ela sabe que isso acontece nos melhores contos de fada e não se lamenta.
- Mas não com esse homem da promoção! Nem de graça eu o levaria pra casa! Indignou-se Beatrice, sua melhor amiga.
Bea, como é conhecida, gosta de festas e badalação. Levou Anita para ajudá-la a escolher um vestido novo e bem decotado. Quer usar seus novos seios de silicone (250 gramas em cada um) como arma infalível para atrair os homens.
- Ah, como você pode ser tão insensível, Beatrice! Eu não queria gastar muito no Dia dos Namorados. Acho que vou dar uma olhada nesse.
- Até hoje não sei como somos amigas!
As duas entraram na loja e pediram a Claudinei para dar uma olhada no produto da promoção. Por sorte, existiam vários modelos.
- Este aqui é o mais barato e vem com duas entradas para o cinema, explicou o vendedor.
- Não tem um menos careca, com mais dentes e sem essa garrafa de cachaça na mão? Perguntou Anita.
Então o vendedor as levou até os fundos da loja e continuou mostrando os namorados em promoção.
- Anita, aquele não é o marido da Clarice?
- É sim, o Nestor. O que ele faz aqui?
- Como eu ia dizendo, interrompeu o vendedor, nossa loja dispõe dos mais diversos tipos de namorados para agradar nossas clientes. Esta é a sessão dos namorados casados. Esta outra é a dos namorados casados e com filhos, bem mais em conta. A loja Armazém do Amor sempre pensa na satisfação de seus clientes. Adquirindo o nosso produto você estará levando para casa acima de tudo, qualidade. A única coisa em que não nos responsabilizamos, é com as interferências de esposas e coisas do gênero. Com qualquer outro contratempo, garantimos a devolução do seu dinheiro.
Elas já tinham experiência com esse tipo de namorado e sabiam que era dinheiro jogado fora. Resolveram não arriscar novamente e continuaram analisando os modelos propostos por Claudinei. Até que uma nova remessa acabava de chegar, importada da Suíça.
- Na realidade, moço, eu queria um desses, disse Bea, segurando pelo braço um loiro com mais de 1,90 de altura.
- Pois não, vou providenciar um para você provar.
Enquanto Beatrice conversava com um dos namorados importados em um puff em formato de coração, Anita insistia no par ideal.
- Moço, eu sou assim mesmo, bem indecisa. Eu gosto de ter certeza que ficarei feliz com o produto que estou comprando.
- Mas que tipo de namorado mais ou menos você procura?
- Eu queria um homem sensível.
- Gosta desse?
- Muito bonito! Mas ele está na sessão de produtos para homens.
- Ah, desculpe, me enganei. É o costume. Mas descreva mais, quero ver se posso lhe ajudar.
- Queria passar o Dia dos Namorados com um homem inteligente, que goste de conversar e não queria só sexo e essas coisas que estamos acostumadas. Não precisa de entrada para cinema e nem jantar à luz de velas. Você me entende?
- Claro que entendo! Os homens de hoje só querem nos usar e depois nos jogam fora. Já passei por isso, amiga! Mas comprei um namorado para o dia 12 aqui na loja mesmo, um luxo! Mas para você está difícil. O Armazém do Amor jamais deixa uma cliente abalada emocionalmente. Vamos resolver o seu problema.
Claudinei revirava o depósito. Anita olhava a vitrine e se encantava com os mais diversos tipos de namorados. Exemplares que ela nunca tinha ouvido falar.
- Escuta, moço, esses “namorados canalhas” e “namorados grossos, violentos e estúpidos” vendem?
- Vendem sim, mas é porque algumas mulheres não sabem escolher direito, respondeu um outro atendente.
Os “namorados românticos” eram os mais procurados, por isso estavam em falta. Chamou a atenção de Anita o “Namorado Pacote Completo”. Claudinei explicou que estes eram os mais pedidos. Possuíam inteligência, romantismo, eram gentis e divertidos. Anita quis logo experimentar. Eis que por coincidência, apareceu Pedro, seu ex-namorado.
- Pedro, você por aqui?
- Mundo pequeno!
- Espera aí, você está à venda?
- É, eu sou do Pacote Completo.
Anita começou a mudar gradativamente de cor e ficou terrivelmente enfurecida, tanto que Pedro achou melhor sair de perto e voltar para a sua sessão. Ela chamou Claudinei e se queixou da propaganda enganosa.
- Vamos anotar sua queixa, mas você o adquiriu aqui?
- Não, ele era meu namorado de verdade.
- Então não podemos fazer nada, mesmo porque ainda não há registro de reclamações de clientes. Mas ele tem boas recomendações. Tem certeza que não o confundiu?
Anita tinha certeza que era o mesmo Pedro que sumiu de sua vida sem mais nem menos, após muitas declarações de amor. Aquele reencontro não a tinha feito bem. Chamou a amiga que ainda provava o namorado suíço e saíram com pressa. Beatrice não estava entendendo nada e Anita só começou a explicar quando estavam há uma certa distância da loja.
- Péssima idéia essa de arrumar um namorado para o dia 12!
- Você que fez questão…
- Mas e o suíço?
- Ele nem entendia português!
- Quer saber? Esse tal de Dia dos Namorados, presente, amorzinho, ficar junto e jantar à luz de velas é a maior frescura. Resultado dessa sociedade de consumo em que vivemos! Só vou me preocupar com isso novamente daqui a um ano.
- Mas bem que você queria…
- Era só para ter um motivo de comemoração também, nada mais.
- Viu só?
- Eu detesto procurar as coisas em cima da hora!
Então Anita teve a idéia de comprar sorvete e chocolate e convidar todas as amigas solteiras para uma sessão de filmes em sua casa. Mas com uma condição: nada de romances. Beatrice não poderia ir, já havia marcado um encontro com um ex-namorado bem antigo.
Claudinei é um ótimo profissional, dessas “pratas da casa” que faz de tudo um pouco. Não é a toa que já foi contemplado com o título de “vendedor do mês” por vinte e duas vezes em sete anos de trabalho. Alguns dizem que por ser gay ele tem essas vantagens: as mulheres preferem comprar com ele.
- Eu sempre quis um jantar à luz de velas, suspirou Anita enquanto passava em frente à loja, num sábado à tarde, alguns dias antes da comemoração dos namorados.
Anita é romântica. Seus cabelos ruivos e lisos na altura dos ombros escondem uma garota sonhadora, dessas que desejam encontrar um grande amor. Seu último namorado, Pedro, há cerca de oito meses viajou e nunca mais deu notícias. Mas ela sabe que isso acontece nos melhores contos de fada e não se lamenta.
- Mas não com esse homem da promoção! Nem de graça eu o levaria pra casa! Indignou-se Beatrice, sua melhor amiga.
Bea, como é conhecida, gosta de festas e badalação. Levou Anita para ajudá-la a escolher um vestido novo e bem decotado. Quer usar seus novos seios de silicone (250 gramas em cada um) como arma infalível para atrair os homens.
- Ah, como você pode ser tão insensível, Beatrice! Eu não queria gastar muito no Dia dos Namorados. Acho que vou dar uma olhada nesse.
- Até hoje não sei como somos amigas!
As duas entraram na loja e pediram a Claudinei para dar uma olhada no produto da promoção. Por sorte, existiam vários modelos.
- Este aqui é o mais barato e vem com duas entradas para o cinema, explicou o vendedor.
- Não tem um menos careca, com mais dentes e sem essa garrafa de cachaça na mão? Perguntou Anita.
Então o vendedor as levou até os fundos da loja e continuou mostrando os namorados em promoção.
- Anita, aquele não é o marido da Clarice?
- É sim, o Nestor. O que ele faz aqui?
- Como eu ia dizendo, interrompeu o vendedor, nossa loja dispõe dos mais diversos tipos de namorados para agradar nossas clientes. Esta é a sessão dos namorados casados. Esta outra é a dos namorados casados e com filhos, bem mais em conta. A loja Armazém do Amor sempre pensa na satisfação de seus clientes. Adquirindo o nosso produto você estará levando para casa acima de tudo, qualidade. A única coisa em que não nos responsabilizamos, é com as interferências de esposas e coisas do gênero. Com qualquer outro contratempo, garantimos a devolução do seu dinheiro.
Elas já tinham experiência com esse tipo de namorado e sabiam que era dinheiro jogado fora. Resolveram não arriscar novamente e continuaram analisando os modelos propostos por Claudinei. Até que uma nova remessa acabava de chegar, importada da Suíça.
- Na realidade, moço, eu queria um desses, disse Bea, segurando pelo braço um loiro com mais de 1,90 de altura.
- Pois não, vou providenciar um para você provar.
Enquanto Beatrice conversava com um dos namorados importados em um puff em formato de coração, Anita insistia no par ideal.
- Moço, eu sou assim mesmo, bem indecisa. Eu gosto de ter certeza que ficarei feliz com o produto que estou comprando.
- Mas que tipo de namorado mais ou menos você procura?
- Eu queria um homem sensível.
- Gosta desse?
“Loiros ou morenos, altos ou baixos, aqui você encontra todo tipo de namorado para não passar o dia 12 de junho sozinha”, dizia o vendedor Claudinei com um auto-falante em frente à loja Armazém do Amor, no centro da cidade. “E tem mais”, insistia: “na compra do nosso modelo promocional ganhe um jantar à luz de velas!”.
Claudinei é um ótimo profissional, dessas “pratas da casa” que faz de tudo um pouco. Não é a toa que já foi contemplado com o título de “vendedor do mês” por vinte e duas vezes em sete anos de trabalho. Alguns dizem que por ser gay ele tem essas vantagens: as mulheres preferem comprar com ele.
- Eu sempre quis um jantar à luz de velas, suspirou Anita enquanto passava em frente à loja, num sábado à tarde, alguns dias antes da comemoração dos namorados.
Anita é romântica. Seus cabelos ruivos e lisos na altura dos ombros escondem uma garota sonhadora, dessas que desejam encontrar um grande amor. Seu último namorado, Pedro, há cerca de oito meses viajou e nunca mais deu notícias. Mas ela sabe que isso acontece nos melhores contos de fada e não se lamenta.
- Mas não com esse homem da promoção! Nem de graça eu o levaria pra casa! Indignou-se Beatrice, sua melhor amiga.
Bea, como é conhecida, gosta de festas e badalação. Levou Anita para ajudá-la a escolher um vestido novo e bem decotado. Quer usar seus novos seios de silicone (250 gramas em cada um) como arma infalível para atrair os homens.
- Ah, como você pode ser tão insensível, Beatrice! Eu não queria gastar muito no Dia dos Namorados. Acho que vou dar uma olhada nesse.
- Até hoje não sei como somos amigas!
As duas entraram na loja e pediram a Claudinei para dar uma olhada no produto da promoção. Por sorte, existiam vários modelos.
- Este aqui é o mais barato e vem com duas entradas para o cinema, explicou o vendedor.
- Não tem um menos careca, com mais dentes e sem essa garrafa de cachaça na mão? Perguntou Anita.
Então o vendedor as levou até os fundos da loja e continuou mostrando os namorados em promoção.
- Anita, aquele não é o marido da Clarice?
- É sim, o Nestor. O que ele faz aqui?
- Como eu ia dizendo, interrompeu o vendedor, nossa loja dispõe dos mais diversos tipos de namorados para agradar nossas clientes. Esta é a sessão dos namorados casados. Esta outra é a dos namorados casados e com filhos, bem mais em conta. A loja Armazém do Amor sempre pensa na satisfação de seus clientes. Adquirindo o nosso produto você estará levando para casa acima de tudo, qualidade. A única coisa em que não nos responsabilizamos, é com as interferências de esposas e coisas do gênero. Com qualquer outro contratempo, garantimos a devolução do seu dinheiro.
Elas já tinham experiência com esse tipo de namorado e sabiam que era dinheiro jogado fora. Resolveram não arriscar novamente e continuaram analisando os modelos propostos por Claudinei. Até que uma nova remessa acabava de chegar, importada da Suíça.
- Na realidade, moço, eu queria um desses, disse Bea, segurando pelo braço um loiro com mais de 1,90 de altura.
- Pois não, vou providenciar um para você provar.
Enquanto Beatrice conversava com um dos namorados importados em um puff em formato de coração, Anita insistia no par ideal.
- Moço, eu sou assim mesmo, bem indecisa. Eu gosto de ter certeza que ficarei feliz com o produto que estou comprando.
- Mas que tipo de namorado mais ou menos você procura?
- Eu queria um homem sensível.
- Gosta desse?
- Muito bonito! Mas ele está na sessão de produtos para homens.
- Ah, desculpe, me enganei. É o costume. Mas descreva mais, quero ver se posso lhe ajudar.
- Queria passar o Dia dos Namorados com um homem inteligente, que goste de conversar e não queria só sexo e essas coisas que estamos acostumadas. Não precisa de entrada para cinema e nem jantar à luz de velas. Você me entende?
- Claro que entendo! Os homens de hoje só querem nos usar e depois nos jogam fora. Já passei por isso, amiga! Mas comprei um namorado para o dia 12 aqui na loja mesmo, um luxo! Mas para você está difícil. O Armazém do Amor jamais deixa uma cliente abalada emocionalmente. Vamos resolver o seu problema.
Claudinei revirava o depósito. Anita olhava a vitrine e se encantava com os mais diversos tipos de namorados. Exemplares que ela nunca tinha ouvido falar.
- Escuta, moço, esses “namorados canalhas” e “namorados grossos, violentos e estúpidos” vendem?
- Vendem sim, mas é porque algumas mulheres não sabem escolher direito, respondeu um outro atendente.
Os “namorados românticos” eram os mais procurados, por isso estavam em falta. Chamou a atenção de Anita o “Namorado Pacote Completo”. Claudinei explicou que estes eram os mais pedidos. Possuíam inteligência, romantismo, eram gentis e divertidos. Anita quis logo experimentar. Eis que por coincidência, apareceu Pedro, seu ex-namorado.
- Pedro, você por aqui?
- Mundo pequeno!
- Espera aí, você está à venda?
- É, eu sou do Pacote Completo.
Anita começou a mudar gradativamente de cor e ficou terrivelmente enfurecida, tanto que Pedro achou melhor sair de perto e voltar para a sua sessão. Ela chamou Claudinei e se queixou da propaganda enganosa.
- Vamos anotar sua queixa, mas você o adquiriu aqui?
- Não, ele era meu namorado de verdade.
- Então não podemos fazer nada, mesmo porque ainda não há registro de reclamações de clientes. Mas ele tem boas recomendações. Tem certeza que não o confundiu?
Anita tinha certeza que era o mesmo Pedro que sumiu de sua vida sem mais nem menos, após muitas declarações de amor. Aquele reencontro não a tinha feito bem. Chamou a amiga que ainda provava o namorado suíço e saíram com pressa. Beatrice não estava entendendo nada e Anita só começou a explicar quando estavam há uma certa distância da loja.
- Péssima idéia essa de arrumar um namorado para o dia 12!
- Você que fez questão…
- Mas e o suíço?
- Ele nem entendia português!
- Quer saber? Esse tal de Dia dos Namorados, presente, amorzinho, ficar junto e jantar à luz de velas é a maior frescura. Resultado dessa sociedade de consumo em que vivemos! Só vou me preocupar com isso novamente daqui a um ano.
- Mas bem que você queria…
- Era só para ter um motivo de comemoração também, nada mais.
- Viu só?
- Eu detesto procurar as coisas em cima da hora!
Então Anita teve a idéia de comprar sorvete e chocolate e convidar todas as amigas solteiras para uma sessão de filmes em sua casa. Mas com uma condição: nada de romances. Beatrice não poderia ir, já havia marcado um encontro com um ex-namorado bem antigo.
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