terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fase em depressão

Só quem já sentiu o aperto no peito de uma depressão, independente da intensidade, sabe o quanto essa doença pesa na alma. Incluo aqui aqueles que já se solidarizaram com a dor alheia e conviveram com quem passou por isso.

É inexplicável entender o porquê das lágrimas mesmo sem nenhum motivo aparente, da solidão no meio de muita gente, da força que te puxa de volta pra cama mesmo com o sol lá fora.

Pra mim, que exalo felicidade, sorrio o tempo todo, faço piada de tudo e falo besteiras, foi difícil aceitar que por trás disso tudo, eu estava infeliz. Sempre me gabei da minha fé, da minha gratidão a Deus pela vida, pela saúde, pelos amigos, pelas oportunidades... Mas em determinada época parecia que nada disso era suficiente. Eu sentia um buraco dentro de algum lugar lá dentro onde certamente ficam escondidas as nossas emoções. Era um vazio tão atormentador que tirava meu sono e minha paz.

Eu sentia como se alguém tivesse me arrancado as esperanças em viver. Eu já não era boa o suficiente no trabalho, na faculdade, na família, como amiga ou namorada. Eu olhava no espelho e me sentia feia. Eu ia em festas e via as pessoas se divertindo e aquilo me deixava mal, porque eu não conseguia estar assim também. Quantas vezes, na casa do namorado que eu tinha na época, eu caia no choro sozinha com vontade de ir pra casa, igual criança quando começa a ir pra escola pelas primeiras vezes. Eu me sentia fracassada. Em alguns meses eu tinha me tornado tudo o que eu nunca quis pra mim.

Claro que a depressão não surge do nada. No meu caso, um poço de sensibilidade, vários problemas, durante toda a vida, foram deixando marcas. Essas marcas não vão embora quando tudo fica bem. Elas permanecem com a gente, só que fraquinhas, quase não dão pra ver, mas elas estão ali. Até que uma hora a união de todas elas fez diferença e elas resolveram explodir bem em uma época da vida em que eu estava com os ânimos mais aflorados.

Era final de faculdade, o término de um sonho que eu almejei por anos e que só foi possível por causa da minha fé que eu citei lá em cima, quando eu ainda era forte o suficiente pra conquistar minhas coisas.

Junto com esse medo do final do curso, veio uma doença familiar que refletiu diretamente em mim. A coisa que eu mais detesto no mundo é ver as pessoas que eu amo sofrerem. Eu já tinha perdido o meu pai e só queria paz dentro de casa, mas o pesadelo estava longe de terminar.

Foi aí que eu pirei e quando eu me dei conta, minha mãe e meu irmão tavam implorando pra eu sair do emprego e ir ao médico antes que eu me prejudicasse. Ao contrário do que muita gente pensa, esse não é um momento de fraqueza. Tive que ter muita força pra ir contra minha teimosia e assumir que eu precisava de ajuda. E é só por isso que pude escrever tudo isso.

Essa semana voltei na minha psiquiatra. Fazia seis meses que não a via, já que ela está fazendo tratamento para um câncer e os horários das consultas não batiam. Dessa vez, muita coisa mudou. Hoje ela faz algumas anotações no caderninho dela e eu converso sem aquele aperto no peito que me sufocava.

Já faz cerca de um ano e meio que eu entrei pela primeira vez naquela sala. Com lágrimas nos olhos, eu mal conseguia dizer meia dúzia de palavras. A qualquer momento eu ia desabar. Contei tudo, sem medo de parecer ridícula.

Disse que não via mais sentido no trabalho ou no estudo, que eu tinha um TCC pra terminar e não sabia como fazer isso, falei do pavor de sair de casa, de ficar longe da família. Falei que sentia um sono fora do comum durante o dia, mas a noite o sono não vinha porque eu passava a madrugada chorando. Tinha muita tontura, dor de cabeça e dor de barriga, vontade de comer até explodir, ficava ansiosa só de pensar em sair com as minhas amigas, não tinha mais vontade de estar com meu namorado, nem com homem nenhum.

Agora eu que tenho vontade de perguntar como ela está, como vai o tratamento, mas fico na minha. Ela ainda é a médica da história. Às vezes até fico meio angustiada de ainda estar por ali, sendo que o sofrimento se inverteu. Mas só tenho a agradecer. O papo hoje é meu novo emprego, meu namorado novo, minha pós-graduação...

Talvez eu também a ajude a se recuperar mostrando que ela foi uma das responsáveis por essa mudança na minha vida e o empenho dela como profissional e cidadã tá sendo bem feito.

É claro que as minhas lágrimas ainda caem, mas eu dou conta de enxugá-las antes que molhem o travesseiro. Elas já não atrapalham meu sono e nem meu convívio social. A minha alma está anestesiada e eu tenho certeza que um dia ela vai estar livre de qualquer recaída.