quinta-feira, 12 de julho de 2012

Tudo o que sobrevive aos contratempos

- Apaga a luz e fecha a porta?
- Ainda não vou embora, quero ver você dormir.
- Não vou dormir enquanto você estiver aqui.
- Então eu canto pra você.

           Ele começou a entoar doces canções, verdadeiras poesias que falavam de amor. Só de amor, porque essa era a razão que os levara até ali. Depois disso, ela só lembra que adormeceu, mas sabe que foi em seus braços porque há tempo não tinha um sono tão tranqüilo. Quando acordou imaginou ter tido um sonho. Foi quando o telefone tocou:

- Vida, apaguei a luz e fechei a porta, disse ele bocejando.

          O dia demorou a passar. Os meses demoraram mais. Quando um ano estava pra chegar, alguma coisa aconteceu. O telefone não tocava com tanta freqüência, os encontros não eram tão esperados e a vontade de estar juntos estava cada vez menor. As lágrimas viraram rotina, os beijos não tinham sabor e o coração doía demais. Ela sempre se perguntava por que machucava o que antes fazia-lhe tão bem. E por que só podia fazer parar de chorar justamente o responsável pelos seus prantos.

         Era sábado, sete e meia da noite, quando ela ligou e ele havia saído com os amigos. Não se abateu, ela iria justamente inventar mais uma desculpa para não precisar vê-lo. Esses desencontros tornaram-se comuns e entre idas e vindas resolveram não se ver mais. Com o tempo a saudade cresceu até se tornar insuportável. Tentar esquecer era fácil, ocupavam a cabeça com trabalho, estudo e até com outras pessoas. Tudo em vão. Ambos sabiam da vontade de estar juntos, mas a insegurança atrapalhava qualquer iniciativa.

        Até que um dia encontraram-se em um bar (o mesmo em que se conheceram) e os olhares cruzaram-se. Um filme passou pela cabeça e as lembranças foram o suficiente para que a coragem aproximasse os dois corpos. Parecia que haviam acabado de se conhecer. Tinha músicas que faziam lembrá-los de muitos momentos. Tanto que, quando a trilha sonora de sua história tocou, eles sorriram. Isso foi o suficiente para despertar tudo o que estava escondido dentro do coração por tanto tempo. E foram felizes até o sol nascer.

- Apaga a luz e fecha a porta?
- Claro, mas vou ficar vendo você dormir.

        Madrugada adentro o sono dela era profundo. Só despertou com o barulho de passos apressados vindos na direção do seu quarto:

- Vida, desculpe! Esqueci de apagar a luz.

         Deu-lhe um beijo de boa noite e saiu rápido para que não atrapalhasse seus sonhos, pois sabia que eram com ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário